sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Representantes do Governo Federal e de indústrias discutem a regulamentação sobre emissões setoriais de gases do efeito estufa

 

 
Reduzir o potencial de emissões da indústria brasileira sem reduzir seu crescimento potencial. Esta é a preocupação do Governo Federal e das indústrias na elaboração do plano setorial de mitigação das mudanças climáticas para a indústria brasileira, de acordo com a lei que instituiu a Política Nacional de Mudança do Clima e Decretos posteriores. Tendo como pano de fundo a proximidade da data-limite para a elaboração deste plano, 16 de abril, representantes do Governo Federal, de indústrias e de associações industriais se reuniram na FGV-SP em 27 de março, na terceira sessão do grupo de trabalho sobre o Plano Indústria coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O grupo de trabalho tem o apoio do programa Política e Economia Ambiental do GVces, com o objetivo de colaborar com o debate técnico e a cooperação entre poder público e iniciativa privada no processo de construção do plano setorial industrial.
Compromissos internacionais e desempenho econômico
Para Alexandre Comin, diretor do Departamento de Competitividade Industrial do MDIC e coordenador do Grupo de Trabalho para a elaboração do Plano Indústria, o grande desafio do Brasil é conciliar seu papel de liderança política internacional em matéria de governança ambiental com as necessidades de desenvolvimento social e econômico. “Por um lado, temos os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil e a expectativa de que metas vinculantes de redução de emissão sejam estabelecidas para todos os países e para todos os setores a partir de 2020, o que nos exige uma preparação”, argumenta Comin. “Por outro lado, a continuidade do desenvolvimento econômico e social do Brasil requer o crescimento acelerado do consumo de bens industriais”, completa o representante do MDIC, fazendo referência a duas frentes de difícil compatibilidade.
Esta preocupação em conciliar os compromissos internacionais com diretrizes econômicas do país é um tanto complexa. “Como quase todos os produtos da indústria brasileira são comercializáveis internacionalmente, possíveis restrições comerciais e elevações dos custos decorrentes de compromissos internacionais poderiam levar à perda de competitividade e risco de substituição da produção doméstica por importações”, reflete Comin (foto ao lado), para quem as obrigações que o país tem assumido no plano da governança climática internacional não devem ser interpretadas como um impedimento ao crescimento econômico. “Precisamos estabelecer metas de redução de emissões potenciais não apenas por causa da lei, mas para mostrar ao mundo que o Brasil está em um patamar superior, com um comprometimento político mais avançado com temas de importância global, principalmente mudanças climáticas”, afirma o coordenador do Plano Indústria.
Setores industriais e inventário
Poucos setores industriais concentram a maior parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE) da indústria brasileira. Isso se deve à centralidade do carbono em processos industriais de transformação químico-física de bens minerais e ao uso de combustíveis fósseis em suas atividades. Esta concentração permitiu selecionar os setores industriais com maior capacidade de emissão para o início do Plano Indústria: cimento, alumínio, química, e papel e celulose. Para 2013, o MDIC prevê a inclusão das indústrias de cal, vidro, e aço e ferro-gusa nas atividades do Plano.
Uma das principais tarefas das indústrias elencadas para o Plano será a contabilização das emissões de GEE realizadas em suas operações (aquelas sobre as quais a indústria tem o controle direto), através de inventários de cada planta. Segundo Comin, esta abordagem permitirá construir um banco de dados sobre as emissões por setor industrial, que embasará o desenvolvimento de um padrão de medição das emissões industriais em relação às emissões totais do Brasil. Este banco de dados também servirá para que o governo estabeleça políticas direcionadas para os setores com maior capacidade de emissão, como linhas de crédito e apoio para ações de mitigação e adaptação no âmbito das atividades industriais.
Conhecimento técnico
Para Comin, com a elaboração do Plano Indústria, a discussão passa de uma fase política para uma fase técnica. Pelo lado do plano em si, um de seus principais pontos é a constituição da Comissão Técnica do Plano Indústria (CTPIn), que será composta por representantes do governo, da indústria, da sociedade civil e da academia. Com função consultiva, a comissão será responsável pelo monitoramento das ações, pela elaboração de relatórios anuais e de revisões do Plano, pela fundamentação de decisões técnicas, entre outras atividades.
Outra iniciativa será apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas técnicas que visem à continuidade da política nacional. Neste sentido, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV/EAESP (GVces) venceu uma Concorrência Pública e irá elaborar um estudo técnico, que será desenvolvido nos próximos meses, junto ao Governo e setores industriais já definidos para compor o Plano Indústria na primeira fase.

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