Modelo Michigan
Indivíduos semelhantes, do ponto de vista social e de atitudes, tendem a ter comportamentos políticos semelhantes, independentemente de contextos históricos → Ci = f (Ai, Si)
Ci = comportamento político dos indivíduos
Ai = atitudes políticas dos indivíduos = fazem parte da psicologia humana, são integradas ao sistema político através de um sistema de personalidades e se consolidam através da socialização política
Si = ambiente social em que ocorre a socialização política = ambiente de construção de personalidade, geralmente a família (onde se forma ou não opinião política)
A teoria psicológica do comportamento eleitoral, através do Modelo Michigan, baseia-se em um método indutivo (generalização) – coleta de dados comportamentais particulares que são aplicados ao comportamento político geral + análise das motivações psicológicas destes indivíduos observados.
Si é determinado por um conjunto de atitudes expostas pelos outros (influência do meio) → Si = f [Cj = g(Aj, Sj)], onde Cj é o comportamento político dos indíviduos que influenciam, Aj são as atitudes dos indivíduos do meio “influenciador” e Sj é o próprio ambiente que influencia.
Logo, Ci = f [Ai, Cj(Aj, Sj)], ou seja, é um ciclo de influências que tem poder de alterar o comportamento político de indivíduos, que, por sua vez, também são influenciados por outros dentro de um mesmo ambiente social, mas não necessariamente o mesmo ambiente geográfico/temporal.
Portanto:
“O comportamento dos indivíduos é função da interação das atitudes a que esses indivíduos estão sujeitos em suas experiências sociais e políticas.”
o grau de interesse pela política vai estar associado diretamente a Aij e Sij, ou seja, pela intensidade de reação aos estímulos políticos (atitude política, que é individual) e a importância da política no seu ambiente (influência do ambiente social).
pessoas em ambientes sociais semelhantes têm comportamentos políticos parecidos, assim como pessoas em ambientes sociais díspares têm comportamentos políticos distintos.
a condição social dos indivíduos não tem influência no comportamento político destes, mas sim o sistema de atitudes compartilhado por indivíduos com características demográficas semelhantes é que permite esta análise (sistema atitudinal).
Teoria da Crença de Massa
Philipe Converse: o que une as ligações psicológicas individuais com as ações políticas são variáveis endógenas (sistema de crenças políticas) desenvolvidas pelo público e isso tudo depende da capacidade de compreensão da política. Assim, para entendermos/prevermos o comportamento eleitoral, é preciso interpretar as inter-relações entre atitudes e opiniões que podem ser manifestadas pelo povo.
A previsibilidade do comportamento político, segundo Converse, só é aplicável à porção altamente politizada da sociedade (aproximadamente 15% nos PD’s); a maior parte do eleitorado age segundo suas próprias convicções, o que não permite muita previsão acerca de seu comportamento político.
Converse estabelece dois métodos para solucionar essa falta de previsibilidade da parte não-politizada da sociedade:
Grau de centralidade: elemento que endogenamente dá maior coerência aos níveis de conceituação; as questões relacionadas à política não são igualmente politizadas na sociedade; observam-se níveis de abrangência das questões públicas, conforme certos níveis de conceituação.
Grau de motivação para a política: extremamente dinâmico; varia de acordo com os estímulos/situações; condicionam estabilidade (ou instabilidade) ao sistema atitudinal.
é uma condição necessária, segundo Converse, mas não suficiente, conhecer o campo ideológico dos indivíduos para prever seus comportamentos futuros.
opiniões contrárias ou favoráveis originam-se das motivações psicológicas (do campo atitudinal), que estão na base da formação de identidades, mas isso também não é suficiente para levar ao engajamento político ou à alienação.
Teoria da Alienação Política
“Alienação Política implica mais do que desinteresse; ela implica rejeição, no sentido psicanalítico do termo ‘alienação’, mas não na versão marxista.” (LANE, 1962)
Eu sou objeto e não sujeito da vida política (não tenho influência);
O governo não cuida nem administra no meu interesse;
Eu não aprovo o processo de tomada de decisões, as regras são injustas, ilegítimas e a Constituição parece fraudulenta.
POWERLESSNESS: impotência do indivíduo frente ao sistema político
MEANINGLESSNESS: ininteligibilidade (difícil de se compreender)
NORMLESSNESS: anomia (descrença nas regras/leis do sistema)
ISOLATION: isolamento
SELF-ESTRANGEMENT: auto-alienação/auto-indiferença.
Aberbach e Finifter dividem o eleitorado entre não-alienados (engajados) e alienados (isolados), mas esse comportamento não é fixo para a determinação dos comportamentos futuros.
“Sentimentos de impotência política influenciam o comparecimento, mas não a escolha dos eleitores.” (ABERBACH)
Finifter identifica quatro fatores da alienação política:
Political Powerlessness: impotência política, ou seja, eu não tenho influência alguma no que o governo faz.
Political Meaninglessness: ininteligibilidade política, ou seja, as decisões políticas são imprevisíveis e não se vê sentido no rol de decisões.
Political Normlessness: as normas são desrespeitadas pelos políticos.
Political Isolation: rejeitar objetivos e normas políticas aceitos pela maioria da sociedade, votar é mera formalidade.
As dimensões 1 e 3 são as que melhor refletem a síndrome da alienação política e, analisando-as relacionadas com várias sociais, percebe-se que o grau de confiança das pessoas, a idade, a educação e a etnia influenciam sobre esses sentimentos.
grupos mais alienados (segundo Finifter): idosos, jovens, minorias sociais, pessoas com baixa escolaridade.
os sistemas políticos vão ser estáveis ou não, conforme o grau de pertencimento e de participação que as pessoas têm com relação a eles.
o sistema atitudinal, base para o comportamento dos indivíduos, tem dois níveis de profundidade:
desenvolvimento de um sistema de crenças particulares, que orientam a formação de identidades (predisposição para agir em certa direção)
desenvolvimento de um sistema atitudinal propriamente dito, que leva as pessoas a se situarem no continuum “engajamento-alienação” (predisposição para agir ou não).
os dois níveis apresentados por Finifter estão ligados por forças psicológicas interativas.
Assim, após a incorporação dos preceitos de Converse, Lane, Seeman, Aberbach e Finifter, podemos reformular a lei causal do comportamento dos indíviduos como: Ci = f (IPi, APi)
IPi = identidades políticas (pelo sistema de crenças)
APi = estado psicológico motivacional de aderência-alienação política
Ou seja, conhecendo os níveis de adesão-alienação e compreensão-identidade políticas do indivíduo, podemos prever comportamentos futuros; e, por indução, conhecendo as propensões comportamentais dos indivíduos, podemos prever o comportamento dos agregados sociais.
Por que os Indivíduos Votam: a Flutuação nas Taxas de Comparecimento
Eleitores assíduos: engajados, com alto grau de interesse político.
Eleitores periféricos: o engajamento depende de forças momentâneas.
Não-eleitores alienados: alienam-se e quase nada os motiva a participarem do processo eleitoral (no caso de países onde o voto não é obrigatório, isso implica comparecimento ou não nas eleições; onde o voto é obrigatório, pode ser refletido em votar nulo ou em branco).
“O comparecimento a uma eleição específica é basicamente uma questão de quantos entre os menos interessados são suficientemente estimulados pelas circunstâncias políticas momentâneas para fazerem o esforço de votar.” (CAMPBELL, 1967)
Ato de votar : Vti = f (IPi, APi, N)
IPi = grau de identidade político-partidária
APi = grau de engajamento/alienação
N = fatores momentâneos
Taxa de comparecimento/abstenção : TxC = f (IP, AP, N)
Temos, portanto, 2 fatores endógenos (IP e AP) e 1 fator exógeno (N). Este último vai motivar ou não o indíviduo a participar de uma eleição específica.
Normal Vote: proporção de votos estimável a partir do conhecimento das variáveis identificação e envolvimento político – Converse:
respostas a forças momentâneas variam inversamente com o grau de identificação partidária
respostas a forças momentâneas variam inversamente com o nível de envolvimento político.
a identificação partidária origina-se de uma adesão psicológica aos partidos existentes, o que confere estabilidade ou não ao comportamento, pois os partidos funcionariam como catalisadores da síndrome adesão-alienação.
indivíduos engajados politicamente posicionam-se no espectro político-partidário mais facilmente que os demais (posição política mais rígida)
indivíduos menos envolvidos respondem mais rapidamente a estímulos de campanhas políticas (posição política extremamente variável)
por esta razão, um gráfico das respostas a forças momentâneas e participação eleitoral seria uma curva exponencial decrescente.
A Decisão do Voto no Modelo Michigan
Funnel Causality Analogy: a decisão final dos eleitores é produto de um complexo feixe de causalidades.
No nível mais amplo estariam as influências originárias: nível educacional, idade, posição de classe, origens étnicas, religiosas e demográficas e conformações institucionais (do sistema partidário). Estas influências são inseridas na socialização política, através do campo atitudinal.
A variável classe social é pouco considerada, por estar associada à educação, que se torna variável-chave para a formação dos níveis de conceituação da política.
No entanto, a relação entre classe social e identidade partidária pode ser mais intensa quando os partidos políticos têm ligações históricas com determinadas classes.
Os fatores sociológicos têm influência variável na orientação da opção partidária dos indivíduos.
Os efeitos das variáveis sociológicas manifestam-se indiretamente através da adesão partidária.
O indivíduo é (ou não) atraído psicologicamente pelos elementos centrais do processo político (partidos e candidatos), ou seja, a relação eleitor-candidato é de empatia.
O grau de fidelidade partidária dos eleitores é desafiado pelas forças mobilizadoras durante as campanhas e é o que vai comandar a direção do voto.
Eleições normais (não-estimulantes): os votos seguem a distribuição das identidades partidárias.
Eleições atípicas (estimulantes): maior grau de infidelidade partidária e concentração maior de não-identificados numa certa direção.
Por que os eleitores fiéis respondem menos aos apelos das forças mobilizadoras de uma campanha? A resposta está nos fatores psicológicos que formam o campo atitudinal desse eleitorado, ou seja, no mapeamento das transferências das motivações psicológicas na relação indivíduo-partido. Assim, tal comportamento segue a mesma lógica do comparecimento para votar (os menos engajados são mais influenciados que os engajados politicamente).
Para a teoria psicológica do voto, a participação e a volatilidade eleitorais são função da distribuição do grau de adesão-alienação política e partidária na sociedade e o peso desses últimos é determinado por fatores ad hoc. Logo, pela analise do que orienta os indivíduos no mundo político, pode-se prever suas reações à atração política e seus comportamentos eleitorais.
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