Produtora de fibra longa, resistente, rígida, lisa, de textura impermeável e de alta flexibilidade, essa palmeira se desenvolve bem em solos de baixa fertilidade e com características físicas inadequadas para a exploração econômica de muitos cultivos. A necessidade de poucos recursos financeiros para o plantio, a manutenção e exploração, tornam a piaçaveira uma opção agrícola atraente, pelos reduzidos riscos e altos rendimentos que proporciona ao investidor.
Na faixa litorânea, a piaçaveira é encontrada em solos arenosos, associados à vegetação secundária sob mata, ou em áreas expostas á luz. Na medida em que distância-a-se do litoral pode se observa-la em solos arenos-argilosos. Em geral, as plantas estão distribuídas de forma desordenada, em diferentes estádios de desenvolvimento vegetativo, competindo com outras espécies. Esta situação é evitada quando se estabelecem plantios com espaçamento e manejo adequados. Mesmo sendo uma palmeira nativa, apresenta um melhor comportamento quando se procede a limpeza da planta e se realiza o controle de plantas invasoras, sendo esta prática freqüente devido a pobre exuberância das espécies daninhas existentes nas áreas onde a piaçaveira é encontrada. As plantas nativas que recebem esses tratos são chamadas de “cultivadas”, enquanto as que não recebem, produzem menos fibras e são denominadas “piaçaveiras do mato”. Quando plantadas de maneira criteriosa e racional, começa a produzir economicamente a partir do sétimo ano. Em um campo natural, encontram-se em média 300 plantas por hectare, enquanto nas áreas implantadas, denominadas de “pontais”, registra-se uma densidade de 1.000 plantas/há.
Outros usos – Escovões dos carros de limpeza de ruas utilizam a piaçava, somente a piaçava resistiria, sem quebrar a rotação e o atrito dessas máquinas. A Rússia, os /estados Unidos e vários outros países importam a piaçava para utilizar em equipamentos de varrer a neve.
Cabos navais, cordas, artesanatos, isolante térmico e uma infinidade de aplicações podem encontrar na piaçaveira a fibra ideal.
Colheita – As árvores devem ser colhidas apenas uma vez por ano, a fim de possibilitar a formação de fibras mais longas e de melhor valor comercial. Quando se faz o corte com intervalo menor que um ano, se obtém uma fibra de qualidade inferior. Isso também compromete a longevidade de planta. A fase considerada como mais apropriada para a colheita é de março a setembro, uma vez que nos meses mais quentes, a fibra colhida fica menos flexível. Entretanto, nas áreas produtoras, observa-se colheita em todas as épocas do ano. Numa área com boa concentração de plantas, o tirador sobe em uma piaçaveira e segue cortando as folhas, passando de um pé para o outro, sem descer ao chão.
Comercialização – É feita mediante a entrega do produto na “balança”, com o pagamento após a pesagem. O preço pago ao agricultor mantém-se estável ao longo dos meses e não apresenta grandes variações quando comparam-se diferentes compradores. Em alguns casos o produto é vendido no pé, ficando as despesas de colheita e beneficiamento por conta do adquirinte. A produção de fibras se destina em grande parta para outras unidades da Federação e para países como Estados Unidos, Reino Unido, Portugal, Bélgica, Holanda, Alemanha e Argentina.
Custo e rentabilidade – O custo de colheita de uma arroba de piaçava é de R$ 3,00. As outras despesas consistem em R$ 1,80 par limpeza, R$ 0,30 com transporte e R$ 0,40 para amarrio (arrumação em fardos). Assim, tem-se uma despesa total de R$ 5,50 por arroba, pronta para comercialização. Nas regiões produtoras, o preço recebido pelo produtor é de R$ 20,00/arroba de quinze quilos. Deduzindo-se os gastos com a colheita e o beneficiamento, o produtor tem um lucro líquido de R$ 14,50.
Um hectare de piaçaveira com plantio racional, conduzindo tecnicamente, com custos de R$ 150,00 como tratos culturais, produzindo em média 200 arrobas por ano, o que corresponde a uma receita líquida de R$ 2.750,00. No baixo sul da Bahia, o rendimento proporcionado pela piaçaveira é superior ao obtido com culturas perenes como seringueira, cacau, cravo-da-índia, dendê, coco, macadamia, mamão, mandioca, pupunha, cupuaçu, citrus ...
Remuneração da mão-de-obra – Se o negócio é bom para o produtor, também é rentável para o trabalhador rural, pois um “tirador” (colhedor) de piaçava retira em média 06 arrobas por dia ao preço de R$ 3,00 cada, o que lhe proporciona um rendimento diário de R$ 18,00. Um amarrador beneficia em média 15 fardos por dia, ao preço unitário de R$ 1,60, ganhando, portanto, uma diária de R$ 24,00. Uma catadeira que separa (penteia) a fibra da palha, cata 04 arrobas por dia, ao preço de R$ 1,80, recebendo uma diária de R$ 7,20.
Importância social – Nas áreas produtoras, centenas de empregos são mantidos nos depósitos de piaçava, onde é feito o seu beneficiamento, assegurando o sustento de muitas famílias. Dessa forma, tem-se a criação de trabalho tanto no meio rural como urbano. Há também dezenas de unidades produtoras de vassouras, espalhadas em vários municípios, agregando um maior valor ao produto.
A piaçaveira, ainda no presente, trata-se de uma riqueza pouco explorada. Nos últimos anos, entretanto, vem crescendo o número de produtores interessados por essa palmeira. É muito raro encontrar um produtor de piaçava querendo vender a sua propriedade, o que já não acontece com aqueles que exploram outras culturas. Não resta dúvidas que essa atividade se constitui numa das melhores opções para a diversificação agro-econômica do litoral sul da Bahia. Pelas vantagens que apresenta, mesmo sendo uma cultura de tradição secular, a piaçaveira “ é um tesouro escondido diante de nossos olhos e ninguém vê”.
Barachisio Lisbôa Casali
Engenheiro Agrônomo – Extencionista – CEPLAC/Ituberá-Ba.
Engenheiro Agrônomo – Extencionista – CEPLAC/Ituberá-Ba.