
A atuação de uma organização criminosa formada por empresas
siderúrgicas, agenciadores, transportadores e produtores de carvão ilegal da
Bahia e de Minas Gerais, que vinha destruindo o cerrado e a caatinga, foi
finalmente interrompida durante uma mega-operação realizada nos dois estados no
final da última semana. Batizada de ‘Operação Corcel Negro’, a ação resultou na
prisão de 40 pessoas, embargo de quatro siderúrgicas e apreensão de mil
toneladas de ferro-gusa, 78 caminhões, cinco mil metros cúbicos de carvão e 22
armas. Somente na Bahia, foram presas 23 pessoas – sete em Salvador e 16 em
municípios do oeste – e cumpridos 26 mandados de busca e apreensão, que
resultaram na colheita de farta prova documental

e de 14 armas de fogo, 1.151 munições de vários calibres,
26 computadores, dois notebooks, 31 celulares, duas motosserras, 1,5 kg de
pólvora, três cofres e R$ 215 mil em espécie e cheques. A operação foi realizada
por uma força-tarefa formada pelos Ministérios Públicos estaduais da Bahia
(MP-BA) e de Minas Gerais (MP-MG), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), Polícias Civil e Militar e secretarias de
Segurança Pública (SSP) e de Meio Ambiente (Sema).
A prática criminosa
começou a ser desvendada em agosto de 2008, após veículos de carga que
transportavam carvão ilegal ser apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal da
Bahia (PRF-BA), que noticiou o crime e apontou a rota utilizada pelos
condutores, com destino às usinas siderúrgicas localizadas no norte de Minas
Gerais. Fiscalizações realizadas pelo Ibama identificaram desmatamentos e
produção ilegal de carvão vegetal e que fraudes estariam sendo cometidas no
sistema de Documento de Origem Florestal (DOF).

Os núcleos de inteligência do Ministério Público e da PRF
desvendaram, então, o modo de operação da organização criminosa, que envolvia
desmatamento de áreas de floresta nativa sem licença ambiental, com a utilização
da mesma autorização de exploração por diferentes usuários e propriedades;
utilização de fornos ilegais para a produção de carvão em grande escala,
encontrados em áreas da zona rural do oeste baiano; atuação de agenciadores na
intermediação entre o produtor, o comerciante e o transporte; utilização de
notas fiscais falsificadas para acobertarem o comércio e transporte de carvão
vegetal nativo, como se fosse de origem plantada; e utilização de um único DOF e
nota fiscal para diferentes origens, e de uma mesma nota fiscal para diferentes
DOFs. Ainda foi descoberto o envolvimento de servidores públicos da Sema no
esquema criminoso, que estariam lançando informações fraudulentas no sistema
DOF.

Tendo em vista que os ilícitos estariam crescendo na Bahia,
atingindo toda a cadeia produtiva do carvão, desde a geração de crédito até o
consumo final, envolvendo circunstâncias e dinâmicas regionais geralmente
realizadas por organizações criminosas, o Centro de Apoio Operacional às
Promotorias de Justiça de Meio Ambiente (Ceama) solicitou a atuação do Grupo de
Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), que passou a
investigar todos os envolvidos. A principal intermediadora da venda do carvão
ilegal, a empresária Ana Célia Coutinho, conhecida na região como ‘Xinha’, foi
presa durante a ‘Operação Corcel Negro’, bem como sua filha Milena Coutinho de
Castro e o genro Francisco Leonardo Bastos Vila Nova, que, segundo informações
do Gaeco, a auxiliavam na atividade criminosa, informando-a sobre fiscalizações,
para que pudesse evitar autuações e apreensões de carga. Também foram presos no
interior do estado: Gersino Pereira Costa, Jader Wilton Oliveira Costa (o
“Jadinha”), Francisnay Martins de Oliveira Neves, Derval Barbosa Arruda, Abraão
dos Reis Gomes, Maria Emília da Silva Miranda, Florisvaldo Silva Costa, Marcelo
Luís Dourado Costa,

Cássio Higino Barreto Santos, Marcelo Vagner de Oliveira
Rocha, Joir Pereira Dourado e Carlos Alberto Rodrigues das Neves (o “Panda”).
Todos eles foram encaminhados até a base da operação, montada na Promotoria de
Justiça Regional de Barreiras, onde foram ouvidos.
De acordo com a
coordenadora do Gaeco, promotora de Justiça Ediene Lousado, o resultado da
operação foi impactante para os municípios do oeste baiano e deve servir de
alerta para todos os grupos criminosos envolvidos na supressão vegetal ilegal e
na produção e transporte clandestinos de carvão. “Com essa operação, o
Ministério Público conseguiu, no mínimo, inibir a continuidade da ação
criminosa. Esperamos que ela possa servir de exemplo para outros grupos
criminosos que agem do mesmo modo e que ainda não foram descobertos”, afirmou
Ediene, destacando o sucesso da parceria inédita e proveitosa para todas as
instituições envolvidas e a “atuação brilhante” dos promotores de Justiça
regionais ambientais e de outros promotores voluntários na execução da
operação.

A integração dos 26 promotores de Justiça que participaram
da ‘Corcel Negro’, bem como dos 120 policiais rodoviários federais, 76 policiais
civis, 45 agentes ambientais do Ibama, nove policiais militares e 31 servidores
do Ministério Público, também foi ressaltada pelo coordenador do Ceama, promotor
de Justiça Marcelo Guedes. Segundo ele, a parceria “permitiu que fizéssemos, sem
medo de errar, a melhor e maior operação nacional de combate aos crimes
ambientais contra os biomas cerrado e caatinga”. “As prisões realizadas foram
importantes não só para continuidade das investigações, mas também como
demonstração de que crime ambiental também dá cadeia”, concluiu Guedes. Durante
a operação realizada em oitos municípios do oeste baiano (Bom Jesus da Lapa,
Carinhanha, Barreiras, Coribe, Cocos, Riacho de Santana, Ibotirama e Juazeiro),
foram utilizados 100 veículos, um helicóptero e um avião da PRF e um helicóptero
do Ibama. Os mandados de prisão e de busca e apreensão foram deferidos pelo juiz
Armando Duarte Mesquita Júnior.
Atuação integrada fortaleceu
operação
A participação dos promotores e servidores das Promotorias
de Justiça Especializadas de Meio Ambiente e dos Núcleos de Atuação Especial
ambientais também foi decisiva para o sucesso da ‘Operação Corcel Negro’. Foi a
primeira vez que as Promotorias Regionais Ambientais, implantadas no último mês
de maio, atuaram de forma integrada, podendo demonstrar, conforme salientaram os
promotores que participaram da operação, a importância da união de esforços para
a consecução de um objetivo comum institucional.
Participaram da
operação os promotores de Justiça ambientais Antônio Eduardo Setúbal (Valença),
Augusto César de Matos (Lençóis), Eduardo Antônio Bittencourt (Barreiras), Fábio
Fernandes Côrrea (Teixeira de Freitas), Luciana Khoury (Paulo Afonso) e Yuri
Lopes de Mello (Itabuna). Além deles e dos coordenadores do Ceama e Gaeco,
também participaram os promotores de Justiça Marcos Pontes (Gaeco), Gervásio
Lopes (Gaeco), Alicia Violeta Passegi, André Lavigne, André Bandeira, Edmundo
Reis, Fabrício Menezes, Frank Ferrari, George Elias Pereira, Gustavo Vieira,
Hugo César Araújo, João Batista Neto, Julimar Barreto, Laíse Carneiro, Moacir
Júnior, Paola Stefam, Rui Gomes Sanches e Tiago Quadros.
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