De 28 de maio a 6 junho de 2012, será realizada 
no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento 
Sustentável (“Rio+20”), em celebração aos vinte anos da Conferência das Nações 
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a “Rio-92”. A Conferência terá o 
seguinte programa: (I) III Reunião do Comitê Preparatório (28 a 30 de 
maio),responsável pela negociação do documento final a ser adotado pela 
Conferência; (II) “Dias Especiais” (31 de maio e 1, 2 e 3 de junho), com eventos 
voltados à sociedade civil sobre temas novos e emergentes. Esses eventos, 
propostos pelo Governo Brasileiro, constituem a grande novidade da Rio+20, e 
visam reunir grandes personalidades globais nos temas escolhidos, para um debate 
aberto, fora dos modelos de negociação tradicionais. Os resultados desses 
debates subsidiarão, na sequência, a reunião dos Chefes de Estado na Conferência 
de Alto Nível; e, por último, (III) Conferência de Alto Nível (4 a 6 de junho). 
A Rio+20 tem o potencial de ser o mais importante evento de política 
internacional dos próximos anos. O objetivo da Conferência é a renovação do 
compromisso internacional com o desenvolvimento sustentável, por meio da 
avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas 
pelas principais Cúpulas sobre o tema e do tratamento de temas novos e 
emergentes. Além disso, dois temas principais serão objeto da Conferência: a 
economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da 
pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. A 
Conferência deverá, assim, estabelecer a nova agenda internacional para o 
desenvolvimento sustentável para os próximos anos. Espera-se que a Conferência 
conte com a participação de expressivo número de Chefes de Estado e de Governo, 
de delegações de todos os Estados-membros da ONU e de ampla representação da 
sociedade civil, em total estimado de 50 mil participantes. Como país-sede e 
Presidente da Conferência, o Brasil trabalhará para que a Rio+20 alcance 
resultados efetivos e corresponda a todas as expectativas substantivas e 
logísticas. Para articular os eixos de participação do Brasil na Conferência, a 
Senhora Presidenta da República aprovou o Decreto 7.495, em 7 de junho de 2011, 
pelo qual criou a Comissão Nacional da Rio+20, composta por representantes do 
Governo e da sociedade. A Comissão Nacional conta com uma Secretaria-Executiva, 
presidida pelo Ministério das Relações Exteriores, de que fazem parte os 
Ministérios do Meio Ambiente, da Fazenda e do Desenvolvimento Social e Combate à 
Fome, responsáveis pela elaboração da contribuição brasileira ao texto da 
Conferência nas áreas ambiental, econômica e social, respectivamente. Com o 
objetivo de garantir processo inclusivo e transparente de elaboração das 
propostas do Brasil para a Conferência, a Comissão conta com a participação de 
diversos setores da sociedade brasileira, indicados pelas suas respectivas 
entidades representativas, as quais deverão, também, constituir canais de 
representação junto aos seus respectivos segmentos.
Quaisquer indivíduos ou organizações nacionais 
poderão contribuir para o processo preparatório, utilizando-se de vários canais. 
Além desta Consulta Pública, há representantes de diversos setores da sociedade 
brasileira na Comissão Nacional, indicados pelas suas respectivas entidades 
representativas, aos quais cabe a articulação no âmbito de seus setores. 
Finalmente, os Ministérios representados na Secretaria Executiva (Ministério do 
Meio Ambiente, Ministério da Fazenda e Ministério do Desenvolvimento Social e 
Erradicação da Pobreza) constituem, também, canais de consultas e debates com a 
sociedade brasileira e deverão considerar, em seu trabalho, todas 
ascontribuições recebidas.Todo esse conjunto de contribuições, após debate 
interno no Governo Brasileiro, deverá subsidiar a elaboração do texto que será 
apresentado pelo País ao Secretariado da ONU até o dia 1º de novembro próximo, 
com as visões e propostas do Brasil para a Conferência. A partir dessas 
contribuições, o Secretariado da ONU preparará uma primeira minuta do documento 
final, que deverá ser objeto de negociações formais, com vistas à sua adoção 
durante a Conferência. É importante observar, ainda, que as contribuições ao 
processo preparatório não se esgotam com a apresentação, pelo Brasil, do 
documento com suas visões e propostas para a Conferência. Apartir da 
apresentação, pelo Secretariado da ONU, do documento que será objeto de 
negociações formais, as contribuições da sociedade brasileira subsidiarão e 
fortalecerão as posições defendidas pelo País nessas negociações, quando estarão 
em jogo as visões e contribuições de todos osdemais Países. Nesse contexto, o 
Governo Federal realizará debates com diversos setores representativos da 
sociedade brasileira, objetivando balizar o processo negociador que terá lugar 
ao longo de 2012, antecedendo a Conferência.
TEMAS DA CONFERÊNCIA
a) Economia verde no contexto do 
desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza O Brasil, na qualidade 
de país-sede e Presidente da Conferência, tem acompanhado atentamente as 
discussões sobre os dois temas da Rio+20, buscando atuar no sentido da 
facilitação de entendimentos, para que a Conferência possa adotar decisões 
positivas e concretas em favor do desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, 
tem notado que as discussões internacionais acerca da “economia verde no 
contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza” 
encontram-se longe de consenso. O tema da “economia verde”, proposto 
inicialmente pelos países desenvolvidos, encontrou resistência inicial de 
diversos países em desenvolvimento, devido ao temor de que a “economia verde” 
substituísse o conceito de desenvolvimento sustentável, que preserva o 
equilíbrio entre osobjetivos do desenvolvimento econômico, da proteção 
ambiental, e da promoção do bem-estar
social. Por essa razão, a Assembléia-Geral da 
ONU, na Resolução 64/236, que determinou a realização da Conferência, ressaltou 
o “contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza” para as 
discussões sobre o tema. Como país-sede tanto da Rio-92, que consagrou, no plano 
internacional, o conceito do desenvolvimento sustentável, quanto da Rio+20, que 
se pauta por esse legado, o Brasil procura ressaltar as oportunidades de 
complementaridade e de sinergia que podem ser exploradas nesse novo debate. 
Nota-se, nas discussões, que os países defendem que a “economia verde” deva ser 
uma ferramenta para o objetivo maior do desenvolvimento sustentável, um conjunto 
de opções de políticas sustentáveis, englobando atividades e programas que 
respondam às diferentes necessidades e realidades de países desenvolvidos e em 
desenvolvimento, com vistas àconsecução do objetivo mais amplo do 
desenvolvimento sustentável. Além disso, a economia verde não deveria ser um 
conceito divisor, que discrimine países que produzam ou não de forma “verde”, 
principalmente em vista das disparidades econômicas e tecnológicas entre os 
países. Não se deve perder de vista que a redução das desigualdades – em nível 
nacional e internacional – é um dos imperativos para a promoção do 
desenvolvimento sustentável no plano global. Algumas das principais idéias 
ventiladas na discussão sobre economia verde, tanto em âmbito nacional quanto 
internacional, incluem:
• a adoção de uma estratégia para a economia 
verde (a qual deverá orientar as estratégiasnacionais dos Estados-Partes das 
Nações Unidas, dentro de suas respectivas capacidades,prioridades, necessidades 
e demandas); 
• a adoção de nova métrica para o 
desenvolvimento, que complemente e aperfeiçoe índices consagrados como o PIB e o 
IDH, reconhecidamente limitados quando se trata de retratar, de maneira 
integradas, os três pilares do desenvolvimento sustentável; 
• a adoção de uma estratégia global para 
produção e consumo sustentáveis, tal como o que vem sendo discutido 
internacionalmente há vários anos, no assim chamado Processo de Marrakech. 
Finalmente, a discussão sobre economia verde tem sido fortemente referenciada, 
recentemente, pela proposta de que a Rio+20 venha a incluir, entre os seus 
resultados,acordo em torno de uma série de Objetivos para o Desenvolvimento 
Sustentável (ODS), os quais traduziriam o debate sobre economia verde no 
contexto do desenvolvimento sustentável em metas tangíveis, provendo sinais 
mensuráveis para temas considerados essenciais no debate global sobre 
sustentabilidade. Embora essa discussão ainda esteja em estágio inicial, há 
crescente percepção de que a eventual adoção de Objetivos para o Desenvolvimento 
Sustentável deverá ser acompanhada de meios concretos para atingi-los e que, ao 
contrário dos ODMs, voltados para os países em desenvolvimento, deverão ser de 
caráter global.
b) Estrutura institucional para o 
desenvolvimento sustentável. Multilateralismo e governança. O tema da “estrutura 
institucional para o desenvolvimento sustentável” deve ser entendido em quadro 
mais amplo: a necessidade de adequação das estruturas multilaterais de 
governança às realidades e desafios contemporâneos. Desde que o sistema das 
Nações Unidas foi criado no pósSegunda Guerra Mundial, o arcabouço institucional 
para o tratamento das questões ligadas à sustentabilidade sofre modificações em 
apenas dois momentos: a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio 
Ambiente (PNUMA), como consequência da Conferência de Estocolmo de 1972; e o 
estabelecimento da Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS), como resultado 
da Rio-92. A criação do PNUMA atendeu à necessidade de dotar as Nações Unidas de 
um foro voltado à proteção ambiental, temática que ganhou força e substância no 
final da década de 1960. Já o estabelecimento da CDS respondeu à necessidade de 
coordenação e de integração dos três pilaresdo desenvolvimento sustentável, 
conforme definidos no Rio de Janeiro: econômico, social e ambiental. O esforço 
de aprimoramento da governança para o desenvolvimento sustentável deriva da 
necessidade do fortalecimento do multilateralismo como instrumento legítimo, por 
excelência, de ação coletiva para a solução de problemas globais. É por meio de 
debates democráticos einclusivos, que respeitem as diferentes perspectivas e 
necessidades dos países, que se chegará a decisões que contem com o apoio 
efetivo e a vontade política necessários para a sua implementação. A via 
multilateral, além disso, facilita a criação de alianças que reforçam a 
cooperação internacional, fundamental para a consecução do objetivo do 
desenvolvimento sustentável. Ao sediar a Conferência, o Brasil reafirma seu 
compromisso com o multilateralismo para o enfrentamento dos desafios globais. No 
caminho para a Rio+20, observa-se que as discussões sobre a estrutura 
institucional para odesenvolvimento sustentável são movidas por objetivos 
práticos: os países entendem que “a forma deve seguir as funções”, ou seja, 
deve-se primeiro determinar precisamente os objetivos a serem cumpridos pelas 
instituições (e compreender quais não vêm sendo cumpridos de forma 
satisfatória), para se desenhar reforma correspondente.Há dois aspectos sobre os 
quais o Brasil vem observando consenso geral dos países: a) necessidade de 
fortalecimento e melhor integração do pilar ambiental do desenvolvimento 
sustentável; e b)necessidade de melhor coordenação, diálogo e sinergias entre as 
instituições que compõem os pilares econômico, social e ambiental. Sobre o 
primeiro ponto, muitos países têm defendido o fortalecimento do PNUMA, sediado 
emNairóbi, no Quênia, sobretudo em suas atividades de apoio aos países à 
implementação dos compromissos ambientais e de capacitação de técnicos. Além 
disso, defendem a melhor interação entre os acordos multilaterais ambientais 
(que já são mais de 500), entre si e com o Programa, para evitar a duplicação de 
esforços e a adoção de decisões contraditórias entre si. Alguns
defendem a transformação do PNUMA em agência 
especializada, sob a forma de uma Organização das Nações Unidas para o Meio 
Ambiente. Outros criticam a idéia, no sentido de que essa discussão singulariza 
o meio ambiente, ao invés de integrá-lo no âmbito do desenvolvimento 
sustentável. Sobre o segundo aspecto, referente à coordenação 
inter-institucional, os países defendem que as instituições de cada pilar do 
desenvolvimento sustentável tomem decisões e implementem atividades a partir de 
orientação política, dada pelos Estados-membros, integrada, buscando avanços 
sinérgicos para as agendas social, ambiental e econômica. Pontos que merecem 
atençãodos países são a interação entre as agências da ONU, tanto na formulação 
de políticas, quanto na implementação de projetos nos países; e a relação entre 
o sistema ONU com as demais instituições, tais como Banco Mundial, Fundo 
Monetário Internacional (FMI) e Organização
Mundial do Comércio (OMC).
No âmbito das estruturas, discute-se o futuro 
da Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS), responsável pelo 
monitoramento da implementação da Agenda 21, mas que não tem cumprido plenamente 
a função para a qual foi criada. Como moldura integradora mais 
abrangente,consideram-se várias possibilidades, tais como a criação de uma 
organização “guarda-chuva”, coordenadora dos três pilares, ou de um novo 
Conselho de Desenvolvimento Sustentável. Idéia que vem angariando crescente 
apoio é a reforma do Conselho Econômico e Social da ONU(ECOSOC), com a 
incorporação do pilar ambiental aos atuais econômico e social. Finalmente, as 
discussões sobre governança têm incluído reflexão sobre o papel dos atores não 
governamentais, no sentido de propor soluções criativas e inovadoras para o 
aperfeiçoamento do processo decisório multilateral, hoje essencialmente baseado 
em decisões intergovernamentais. Essa visão reconhece que as formas encontradas 
até o momento para viabilizar a participação e a presença do mundo 
não-governamental nos processos multilaterais têm sido tímidas e pouco 
influenciam os resultados desses processos. O alto nível de participação e 
mobilização de poderosos atores não-governamentais que não apenas são 
influenciados mas, também, influenciam profundamente as formas como estamos nos 
movendo, traz consigo um questionamento sobre lidar, na esfera multilateral, com 
essasdemandas, aspirações e propostas. Nesse contexto, tem crescido, no processo 
preparatório para a Rio+20, a discussão sobre como estabelecer mecanismos para 
permitir o entendimento, o engajamento e a participação nesses processos 
decisórios
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