segunda-feira, 23 de abril de 2012

Um por todos e todos por um! A ONU instituiu 2012 como sendo o Ano Internacional das Cooperativas para enfatizar a contribuição delas ao desenvolvimento socioeconômico em um mundo que busca modelos de negócio alternativos.


 
COOPERATIVISMO NO BRASIL
No Brasil, a prática do cooperativismo teve início no final do século XIX, mas a cultura já poderia ser observada desde a época colonial. Ela se desenvolveu tanto no meio urbano quanto no rural, tendo forte influência das culturas alemã e italiana, principalmente na área agrícola. Os imigrantes trouxeram de seus países de origem a bagagem cultural, o trabalho associativo e a experiência de atividades familiares comunitárias, que os motivaram a organizar-se em cooperativas.
Com a propagação da doutrina cooperativista, as cooperativas tiveram sua expansão num modelo autônomo, voltado para suprir as necessidades dos próprios membros, evitando, assim, a dependência de outros atores do mercado.
Para atuar em defesa do movimento cooperativista, foi criada em 1969 a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), entidade reconhecida como representante oficial do setor no país. A OCB é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, com neutralidade política.
Em 1971, ocorreu a regulamentação do segmento, com a sanção da Lei 5.764, na qual são especificadas as regras para a criação de cooperativas.
A cooperação é um dos muitos princípios da evolução. Na natureza, cardumes de peixes, animais que caçam em matilha e colônias de insetos exemplificam a união que faz a força para garantir a sobrevivência.
Os humanos se comportam de modo semelhante, é claro, porém nas últimas décadas nosso sistema capitalista turbinado nos conduziu a uma visão de mundo que enxerga um outro princípio evolucionário – a concorrência – como a rota mais efetiva para o progresso humano.
Em 2012 a ONU espera lidar com esse desequilíbrio. "As cooperativas são um lembrete à comunidade internacional de que é possível buscar tanto a viabilidade econômica quanto a responsabilidade social", declara o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon no website dedicado ao Ano das Cooperativas.
A ONU quer focar especificamente o "impacto na redução da pobreza, a geração de emprego e a integração social" que as cooperativas possibilitam, segundo diz o website.
A ocasião não poderia ser mais oportuna. A crise financeira, a desigualdade crescente, a fome e a pobreza espalharam ceticismo quanto aos benefícios do fundamentalismo do livre mercado e do individualismo desenfreado, especialmente agora que o equilíbrio do poder econômico está mudando do hemisfério Norte para o Sul, e do Ocidente para o Oriente.
As pessoas procuram novas maneiras de fazer negócio e estão em busca de formas que envolvam e promovam os pobres, assim como os ricos. Elas não precisam ir muito longe, pois isso já está ocorrendo em larga escala.
Mais de um bilhão de pessoas no mundo todo já se uniram em cooperativas, e esses empreendimentos já melhoraram a sobrevivência de três bilhões de pessoas, segundo os números da Aliança Cooperativa Internacional (International Cooperative Alliance – ICA).
"Cooperativas são um modelo de negócio sério e que funciona bem no mundo inteiro", afirma Charles Gould, diretor-geral da ICA, em uma entrevista para a Federação Internacional de Cooperativas e Mutualidades de Seguro (ICMIF, sigla em inglês).
Segundo a ICA, no Brasil as cooperativas foram responsáveis por 37,2% do PIB agrícola e por 5,4% do PIB total em 2009. Na Alemanha, 8.106 cooperativas dão emprego para 440 mil pessoas. No Canadá, quatro em cada dez canadenses são membros de, pelo menos, uma cooperativa.
Na Índia, agricultores em mais de 15.500 associações cooperativas leiteiras de vilarejos se beneficiam com o processamento e a comercialização do leite de forma compartilhada.
Esses benefícios financeiros frequentemente são reinvestidos na comunidade local – uma característica essencial do modelo cooperativista que o distingue do capitalismo de mercado, onde os lucros gerados localmente podem desaparecer nas mãos de acionistas distantes dali.
No país africano Costa do Marfim, por exemplo, a ICA relata que nos últimos anos as cooperativas investiram 26 milhões de dólares em escolas, estradas rurais e maternidades. Já em Burkina Faso, o ambientalista francês Olivier Behra promove a manteiga orgânica das cooperativas locais, defendendo que elas são as melhores guardiãs da natureza devido ao seu interesse direto nisso.
"Assim que as pessoas lá puderem viver da venda dos seus produtos, elas começarão a proteger o seu meio ambiente", diz ele.
Será que as cooperativas poderiam fornecer uma solução alternativa para países industrializados castigados pela dívida? De fato, cooperativas em países como a Grã-Bretanha já estão por trás de uma ampla gama de produtos do dia a dia. Na verdade, o número de cooperativas start-up envolvidas em todo tipo de atividade – desde produção alimentar até energia renovável – está aumentando, apesar da recessão, conforme aponta Ed Mayo, secretário-geral da associação Cooperatives UK, em um recente artigo que escreveu para o jornal britânico The Guardian.
"O caos dos mercados e o esmagamento do crédito foram mais responsáveis por demonstrar as vantagens do cooperativismo do que qualquer outra coisa," acrescentou Mayo.
Portanto, o Ano Internacional das Cooperativas visa "encorajar pessoas, comunidades e governos a reconhecer a intermediação das cooperativas em ajudar a alcançar as metas de desenvolvimento internacionalmente acordadas, como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio".

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