O novo Código Florestal tem o desafio de conciliar a preservação da natureza com o desenvolvimento do agronegócio. Mas o embate entre os ambientalistas e os produtores rurais está longe do fim
Um dos mais importantes temas atualmente em tramitação no Congresso Nacional, o
novo Código Florestal pretende resolver uma questão crucial: conciliar a
proteção do meio ambiente com o desenvolvimento da agropecuária. Isso não
deveria ser tão complicado no Brasil, um país que possui 520 milhões de hectares
de áreas preservadas, o correspondente a 61% de seu território, ao mesmo tempo
que se tornou uma potência global do agronegócio ocupando apenas 28% da área com
a atividade. No entanto, mais de 90% dos 5,2 milhões de produtores brasileiros
estão atualmente fora da lei, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA). De algum modo, eles não cumprem o código em vigor, estabelecido
em 1965 e, desde então, modificado por vários decretos, portarias e medidas
provisórias. A situação chegou a esse ponto devido ao descaso de produtores, à
dificuldade de cumprir determinações pouco razoáveis e à incapacidade do Estado
de realizar a fiscalização devida. Por anos o governo prorrogou por decreto o
prazo para a adequação às normas, até que a revisão da legislação se impôs como
prioridade. "A atualização do código trará segurança jurídica aos produtores
rurais", diz a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da CNA.
Mais que dar segurança a agricultores e pecuaristas, a qualidade da lei produzida e a capacidade de adequação do setor ao novo marco legal a partir de 2012 dirão ao mundo se o Brasil possui, de fato, um agronegócio sustentável e mecanismos modernos para gerir seu patrimônio natural. O ponto de partida dos grupos que buscam influenciar o novo código é a legislação atual. Sobre ela, uns dizem tratar-se de um arcabouço ultrapassado e inaplicável, uma ameaça não apenas ao crescimento da produção mas também à sua manutenção nos patamares atuais, além de ineficaz para proteger os recursos naturais. Para outros, entretanto, trata-se de uma das legislações ambientais mais modernas do mundo, que foi simplesmente ignorada pelo avanço da agropecuária - e agora, em vez de se buscar cumpri-la, optou-se por afrouxar as regras e apagar os erros do passado. Assim se delineou uma polarização feroz entre produtores rurais e ambientalistas.
Posto nesses termos, o primeiro round foi vencido pelos produtores. O projeto de lei do deputado e atual ministro do Esporte Aldo Rebelo (PCdoB-SP), aprovado com folga pela Câmara dos Deputados em maio, flexibilizou as regras para a ocupação de áreas de proteção e reservas florestais nas propriedades rurais, entre outras mudanças polêmicas que dão margem a interpretações contraditórias. "O texto aprovado atende à demanda dos produtores, principalmente os pequenos, ao mesmo tempo que mantém os instrumentos de conservação do código atual", diz Rodrigo Lima, gerente-geral do Icone, instituto especializado na análise do agronegócio. Para Lima, a maior virtude do código aprovado na Câmara é a possibilidade de adequar o ordenamento jurídico à realidade do país - algo que seria hoje impossível, como sugere o descumprimento da lei em larga escala. "Aumentar as exigências sem considerar aspectos socioeconômicos dos produtores, como tem sido feito nos últimos anos, não trouxe resultados práticos para a conservação", afirma Lima.
Agora está em curso o segundo round do embate. O Senado se debruça sobre o texto aprovado na Câmara, revisando seu conteúdo em comissões e analisando novas propostas. Nessa etapa, espera-se que sejam incorporadas algumas demandas dos ambientalistas.
Mais que dar segurança a agricultores e pecuaristas, a qualidade da lei produzida e a capacidade de adequação do setor ao novo marco legal a partir de 2012 dirão ao mundo se o Brasil possui, de fato, um agronegócio sustentável e mecanismos modernos para gerir seu patrimônio natural. O ponto de partida dos grupos que buscam influenciar o novo código é a legislação atual. Sobre ela, uns dizem tratar-se de um arcabouço ultrapassado e inaplicável, uma ameaça não apenas ao crescimento da produção mas também à sua manutenção nos patamares atuais, além de ineficaz para proteger os recursos naturais. Para outros, entretanto, trata-se de uma das legislações ambientais mais modernas do mundo, que foi simplesmente ignorada pelo avanço da agropecuária - e agora, em vez de se buscar cumpri-la, optou-se por afrouxar as regras e apagar os erros do passado. Assim se delineou uma polarização feroz entre produtores rurais e ambientalistas.
Posto nesses termos, o primeiro round foi vencido pelos produtores. O projeto de lei do deputado e atual ministro do Esporte Aldo Rebelo (PCdoB-SP), aprovado com folga pela Câmara dos Deputados em maio, flexibilizou as regras para a ocupação de áreas de proteção e reservas florestais nas propriedades rurais, entre outras mudanças polêmicas que dão margem a interpretações contraditórias. "O texto aprovado atende à demanda dos produtores, principalmente os pequenos, ao mesmo tempo que mantém os instrumentos de conservação do código atual", diz Rodrigo Lima, gerente-geral do Icone, instituto especializado na análise do agronegócio. Para Lima, a maior virtude do código aprovado na Câmara é a possibilidade de adequar o ordenamento jurídico à realidade do país - algo que seria hoje impossível, como sugere o descumprimento da lei em larga escala. "Aumentar as exigências sem considerar aspectos socioeconômicos dos produtores, como tem sido feito nos últimos anos, não trouxe resultados práticos para a conservação", afirma Lima.
Agora está em curso o segundo round do embate. O Senado se debruça sobre o texto aprovado na Câmara, revisando seu conteúdo em comissões e analisando novas propostas. Nessa etapa, espera-se que sejam incorporadas algumas demandas dos ambientalistas.
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