Reduzir o potencial de emissões da indústria brasileira sem reduzir seu 
crescimento potencial. Esta é a preocupação do Governo Federal e das indústrias 
na elaboração do plano setorial de mitigação das mudanças climáticas para a 
indústria brasileira, de acordo com a lei que instituiu a Política Nacional de 
Mudança do Clima e Decretos posteriores. Tendo como pano de fundo a proximidade 
da data-limite para a elaboração deste plano, 16 de abril, representantes do 
Governo Federal, de indústrias e de associações industriais se reuniram na 
FGV-SP em 27 de março, na terceira sessão do grupo de trabalho sobre o Plano 
Indústria coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio 
Exterior (MDIC). O grupo de trabalho tem o apoio do programa Política e Economia 
Ambiental do GVces, com o objetivo de colaborar com o debate técnico e a 
cooperação entre poder público e iniciativa privada no processo de construção do 
plano setorial industrial.
Compromissos internacionais e desempenho econômico
Para Alexandre Comin, diretor do Departamento de Competitividade Industrial 
do MDIC e coordenador do Grupo de Trabalho para a elaboração do Plano Indústria, 
o grande desafio do Brasil é conciliar seu papel de liderança política 
internacional em matéria de governança ambiental com as necessidades de 
desenvolvimento social e econômico. “Por um lado, temos os compromissos 
internacionais assumidos pelo Brasil e a expectativa de que metas vinculantes de 
redução de emissão sejam estabelecidas para todos os países e para todos os 
setores a partir de 2020, o que nos exige uma preparação”, argumenta Comin. “Por 
outro lado, a continuidade do desenvolvimento econômico e social do Brasil 
requer o crescimento acelerado do consumo de bens industriais”, completa o 
representante do MDIC, fazendo referência a duas frentes de difícil 
compatibilidade. 
Esta preocupação em conciliar os compromissos internacionais com diretrizes 
econômicas do país é um tanto complexa. “Como quase todos os produtos da 
indústria brasileira são comercializáveis internacionalmente, possíveis 
restrições comerciais e elevações dos custos decorrentes de compromissos 
internacionais poderiam levar à perda de competitividade e risco de substituição 
da produção doméstica por importações”, reflete Comin (foto ao lado), 
para quem as obrigações que o país tem assumido no plano da governança climática 
internacional não devem ser interpretadas como um impedimento ao crescimento 
econômico. “Precisamos estabelecer metas de redução de emissões potenciais não 
apenas por causa da lei, mas para mostrar ao mundo que o Brasil está em um 
patamar superior, com um comprometimento político mais avançado com temas de 
importância global, principalmente mudanças climáticas”, afirma o coordenador do 
Plano Indústria.
Setores industriais e inventário
Poucos setores industriais concentram a maior parte das emissões de gases de 
efeito estufa (GEE) da indústria brasileira. Isso se deve à centralidade do 
carbono em processos industriais de transformação químico-física de bens 
minerais e ao uso de combustíveis fósseis em suas atividades. Esta concentração 
permitiu selecionar os setores industriais com maior capacidade de emissão para 
o início do Plano Indústria: cimento, alumínio, química, e papel e celulose. 
Para 2013, o MDIC prevê a inclusão das indústrias de cal, vidro, e aço e 
ferro-gusa nas atividades do Plano.
Uma das principais tarefas das indústrias elencadas para o Plano será a 
contabilização das emissões de GEE realizadas em suas operações (aquelas sobre 
as quais a indústria tem o controle direto), através de inventários de cada 
planta. Segundo Comin, esta abordagem permitirá construir um banco de dados 
sobre as emissões por setor industrial, que embasará o desenvolvimento de um 
padrão de medição das emissões industriais em relação às emissões totais do 
Brasil. Este banco de dados também servirá para que o governo estabeleça 
políticas direcionadas para os setores com maior capacidade de emissão, como 
linhas de crédito e apoio para ações de mitigação e adaptação no âmbito das 
atividades industriais.
Conhecimento técnico
Para Comin, com a elaboração do Plano Indústria, a discussão passa de uma 
fase política para uma fase técnica. Pelo lado do plano em si, um de seus 
principais pontos é a constituição da Comissão Técnica do Plano Indústria 
(CTPIn), que será composta por representantes do governo, da indústria, da 
sociedade civil e da academia. Com função consultiva, a comissão será 
responsável pelo monitoramento das ações, pela elaboração de relatórios anuais e 
de revisões do Plano, pela fundamentação de decisões técnicas, entre outras 
atividades.
Outra iniciativa será apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas 
técnicas que visem à continuidade da política nacional. Neste sentido, o Centro 
de Estudos em Sustentabilidade da FGV/EAESP (GVces) venceu uma Concorrência 
Pública e irá elaborar um estudo técnico, que será desenvolvido nos próximos 
meses, junto ao Governo e setores industriais já definidos para compor o Plano 
Indústria na primeira fase.
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